terça-feira, 21 de dezembro de 2010

REVISTA DO CAMINHO DE PEABIRU FOI LANÇADA NA BOLÍVIA


A revista Cadernos da Trilha, publicada há alguns meses com apoio da Itaipu Binacional e tratando do famoso Caminho de Peabiru, foi lançada no Museu de História, de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, na noite de 20 de outubro, pelas pesquisadoras e editoras da revista, Sinclair Pozza Casemiro e Rosana Bond. O evento teve respaldo do Museu e também da Sociedade de Estudos Geográficos e Históricos de Santa Cruz.

Rosana reside em Florianópolis (SC) e é autora de vários livros sobre o Caminho indígena, que ligava o Atlântico ao Pacífico. Sinclair, de Campo Mourão (PR), é uma das diretoras do NECAPECAM (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM).
Exemplares da edição no. 1 da revista, que é gratuita e aborda os ramais peabiruanos no Paraná, foram entregues à diretora do Museu, historiadora Paula Peña, que os distribuiu a bibliotecas da cidade de Santa Cruz, capital do estado.
Outra cota de exemplares foi repassada ao museu do Centro de Investigações Arqueológicas de Samaipata (CIAS), 120 km ao sul da capital. (V.foto)
Samaipata foi uma cidade/fortaleza inca que, conforme a equipe do CIAS, teria sido invadida por Aleixo Garcia em sua viagem rumo aos Andes. Aleixo foi o primeiro homem branco a trilhar o Peabiru, por volta de 1523. Guiado pelos guaranis de Santa Catarina, ele saiu de Florianópolis, atravessou o estado do Paraná, Paraguai, Bolívia (Santa Cruz e região andina), descobrindo o império incaico vários anos antes dos espanhóis.
Além da entrega das revistas, Sinclair e Rosana também fizeram investigações de campo e documentais, confirmando trechos do Peabiru em áreas de Santa Cruz. Viajando ao país vizinho com recursos próprios, as pesquisadoras tiveram como guia Bismarck Cuellar Chávez, diretor da Fundação Educativa Turismo, Cultura e História (FETCH), com sede na capital cruzenha.

UMA PEQUENA ‘‘EXPEDIÇÃO’’ PEABIRUANA NA BOLÍVIA

 

 


Rosana Bond

 

 
Nesta primeira contribuição ao blog Cadernos da Trilha, montado por meu pai, o jornalista Rosnel Bond, do qual serei uma colaboradora frequente, faço um resumo da viagem que a professora Sinclair Pozza Casemiro e eu fizemos em outubro a Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, para pesquisar o Caminho de Peabiru naquelas bandas.
Sinclair é pós-doutorada em Linguística pela USP, e uma das fundadoras e atual diretora do NECAPECAM, de Campo Mourão (PR).
Eu sou jornalista, pesquisadora em História, e estudo o Peabiru há 15 anos. Já publiquei alguns livros sobre o assunto e o mais recente foi o Volume 1 do História do Caminho de Peabiru: Descobertas e segredos da rota indígena que ligava o Atlântico ao Pacífico.
Agora estou escrevendo o Volume 2, que tentarei aprontar para junho ou julho de 2011. Digo “tentarei” porque a tarefa não é fácil. Talvez some, ao final, umas 400 páginas, com centenas de fontes bibliográficas, fotos, mapas...
Estivemos em Santa Cruz de 20 a 25 de outubro. Seis dias que valeram meses, porque a curta “ expedição” nos proporcionou uma experiência tão rica e intensa que, aquilo que se convenciona chamar de tempo foi para as cucuias, extrapolou.
Isso só foi possível porque recebemos ajudas de todos os tipos. Como se estivesse atuando um “complô” positivo invisível, os respaldos chegaram de múltiplos lados.
Na parte investigativa em geral, a presença dedicada e constante de Bismarck Cuellar Chávez, diretor da Fundação Educativa Turismo, Cultura e História (FETCH). Economista com espírito de historiador, nos abriu sua valiosa biblioteca. E, com seus conhecimentos geográficos, nos guiou com segurança nas viagens interioranas, à busca de trechos do Peabiru e outros episódios arqueológicos a ele relacionados. Transformou-se num amigo.
Na parte científica, na capital, a generosidade de renomados estudiosos (historiadores, arqueólogos, antropólogos, etnólogos, e outros) como Isabelle Combès, Frank Michel, Paula Peña, Junior e José Alberto (do grupo de acervo rupestre, ligado ao Museu de História e outras instituições governamentais cruzenhas).
No interior, a equipe de pesquisadores das ruínas de Samaipata (com quem não pudemos conversar pessoalmente, mas que nos fizeram entregar um precioso material escrito e um DVD) e Alfredo Villagomez Bonilla (professor no povoado de El Torno).
Muitas outras pessoas nos brindaram apoio, direto e indireto, como o esforçado funcionário do arquivo do Museu de História, a escritora alemã-boliviana Heide Zürcher e membros da Sociedade de Estudos Geográficos e Históricos de Santa Cruz. Peço desculpas por não citar a todos.

Quanto às “descobertas” feitas na viagem, elas serão publicadas no Volume 2 do livro, no próximo ano. Mas posso adiantar que muitas novidades aguardam os leitores brasileiros, que cada dia mais se fascinam com a história do Peabiru.

 

 

UM MESTRADO DA UFSC E A INTERNET: SAIA JUSTA NA BOLÍVIA


Rosana Bond

Como já contei aos leitores do blog, há pouco tempo cheguei de Santa Cruz de la Sierra, onde fui pesquisar trechos bolivianos do Caminho de Peabiru para o Volume 2 do livro que ora escrevo. Junto comigo, a professora Sinclair Casemiro de Campo Mourão (PR), também investigadora do tema.
Nossos encontros com historiadores, arqueólogos, antropólogos, etc, foram cercados por um clima de generosidade e interesse por parte deles, até que num dado instante... eis que surgiu uma saia justa.
Foi um contratempo menor, alguns poucos segundos de contrariedade, que seriam insignificantes se não envolvessem o bom nome de um setor da UFSC e o “perigo” de publicar textos acadêmicos na internet, sem uma revisão cuidadosa.
Chamadas à parte por um dos estudiosos, que certamente por ética e elegância não quis abordar o assunto dentro da sala do Museu onde nossas reuniões de trabalho aconteciam, eu e Sinclair fomos questionadas. Na verdade principalmente eu, que sou de Santa Catarina.
Primeiro nos indagou se a UFSC era uma boa universidade. De imediato, até com um certo orgulho bairrista, respondi: “Sim, excelente.Umas áreas melhores que outras, mas no geral excelente”.
Franziu a testa, como se estivesse duvidando. Depois, com um tom crítico, perguntou: “Vocês já leram isso aqui?”
O “isso aqui” era a cópia, tirada da internet, de uma dissertação de mestrado em Antropologia Social da UFSC, versando sobre o Peabiru.
Sinclair e eu nos olhamos, constrangidas. Claro que a tínhamos lido, anos atrás, pois tentamos acompanhar (quase) tudo que se publica sobre o Caminho na rede. E também tínhamos lamentado o fato de a dissertação ter sido posta na internet, aparentemente sem uma revisão final do autor ou de seu orientador.
Após um lapso de silêncio, para não apertar ainda mais a saia justa, preferi dizer uma meia-verdade: “Desculpe, professor, mas não lembramos mais desse trabalho, faz muito tempo que o lemos”.
No me gustó”, disse ele.
Em seguida, como se tivesse recordado que nem eu, nem Sinclair, tínhamos vínculo com o material em questão, desanuviou o semblante e se despediu com simpatia.
Não sei quais os problemas que nosso amigo boliviano viu na tese. Mas, por meu lado,os que vi indicam que não houve mesmo uma checagem.
Pois ali estão escorregadas como: Assis Chatoubriant (o correto é Chateaubriand); Palmierde Goneville (Paulmier de Gonneville); Fesucan (Fecilcam); IHGB (IHGSP); viajem (viagem); falta de vírgulas; a algum tempo (há algum tempo). Obs: a omissão do verbo haver, exigido nesses casos, se repete no texto inteiro e a falta de vírgulas ocorre em quase todos os depoimentos de informantes, chegando até a dificultar o entendimento.
Outros equívocos: tribo ao invés de aldeia (para um trabalho de Antropologia, é grave, pois são dois conceitos bem distintos); rio Aviru no Peru (o rio foi chamado de Viru no século XVI e ficava na Colômbia); largura do Peabiru de 80 cm (erro na soma, pois os 8 palmos descritos por jesuítas e citados na dissertação equivalem a no mínimo 1,40 m, bastando verificar a medida “palmo” em tabelas ou bons dicionários); todos os trechos do Peabiru com vestígios de cerâmicas Kaingang (os dois textos citados, de Chmyz e Sauner, não dizem isso e sim se referem a um possível ramal peabiruano específico, de alguns quilômetros, com restos de cerâmicas itararés).
Outro aspecto que me intrigou, e que credito mais uma vez à carência de revisão, foi a atitude generalizadora do autor frente a certos locais e seus habitantes, coisa que não é comum verificar-se em antropólogos.
Sobre os moradores de Guaíra (PR), por exemplo, onde ele parece ter vivido alguma experiência negativa durante seu trabalho, opinou que ninguém merece confiança:“Parecia que todas as pessoas da cidade ficam esperando um momento propício para se aproveitar, tirar vantagem”.
Sei que as universidades e seus departamentos são cuidadosos quanto a publicações que levam seu nome. Como não são infalíveis, alguns tropeços sempre escapam, e geralmente são corrigidos em outras oportunidades, em erratas, em segundas edições, etc.
Hoje, porém, o advento da internet exige muito mais. Porque transforma aqueles pequenos tropeços num tombo ribombante, já que é assistido por milhões de olhos de todo o mundo. Com a rede, qualquer desleixo ou distração que cometamos aqui, chega na Bolívia no minuto seguinte. E vai desgostar o atento professor de testa franzida.

Um comentário:

  1. Olá, Rossna, meu nome é Marcelo e tenho apreciado seus estudos sobre o caminho de peabriu, e gostaria de saber se há como receber um exemplar dessa revista.

    Montei um blog sobre esse tema. Se desejar consultar, ocaminhodepeabiru.blogspot.com

    Ou se puder enviar infromações, por favor
    tripsur@gmail.com

    Obrigado

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