terça-feira, 26 de abril de 2011

O MISTERIOSO PEABIRU

Estamos dando prosseguimento na apresentação do trabalho de pesquisador Jose Alberto Barbosa, de Jaragua do Sul – SC, intitulado Ytapecu rio Caminho Antigo iniciado na postagem anterior. A citada obra se refere à importância do rio Itapocu dentro do sistema viário do Caminho do Peabiru. Nas próximas postagens estaremos dando continuidade a este trabalho.


 
1 .         Na história dos povos primitivos, pouca coisa há mais fascinante que seus caminhos e os monumentos que às margens deles deixaram. Os incas foram exemplares, com suas estradas calçadas sobre os altiplanos, varando os Andes num sistema vasto e de proporções continentais. Leia-se a respeito a excelente obra do etnógrafo americano Victor W. von Hagen, intitulada “A Estrada do Sol” [Melhoramentos, S. Paulo] e na qual ele narra sobre a maravilhosa e produtiva expedição iniciada em 1952 e que chefiou num imenso percurso e levantamento de tais estradas incas, trabalho esse do qual participou sua esposa brasileira Sílvia von Hagen, aventura a que se puseram seis pessoas – quatro homens e duas mulheres – e na busca do que o autor refere – mediante citação - como os mais estupendos e mais úteis artefatos feitos pela mão humana. E quem vê mesmo hoje as maravilhas desses caminhos de pedra nos planaltos, que vão serpeando por encostas íngremes, percorrendo os vales verdejantes ou desérticos e arremessando-se sobre rios e precipícios em pontes arrojadas e por vezes de bases ciclópicas, haverá de dar toda razão ao americano por encher-se de espanto. Pois bem, com o antiqüíssimo e transcontinental caminho apelado Peabiru, dá-se o mesmo. É causa do mesmo espanto e devotada admiração. Porque mesmo sem o luxo do sistema viário inca da região andina, mesmo sem os seus recursos técnicos, suas fortificações, seu aproveitamento de rochas para embasamento de pontes, mesmo sem nada disso o simplezinho Peabiru, no geral uma trilha melhorada avançando pelas matas e campos, contornando cuidadosamente toda e qualquer colina, caminho pois de gente sem pressa, vai varando toda a América do Sul na sua largura e em várias direções, passando por vários países, furando matas, correndo por campos nativos e se sobrepondo a pantanais – onde estacas o assinalavam, face as cheias - e assim vai ligando Atlântico e Pacífico. Não admira, pois, que também foi e é ele, assim, motivo de surpresa e encantamento, lendas e histórias e, tanto quanto o caminho, igualmente o mistério e a beleza que cerca a figura do seu lendário criador, Tumé, mais costumeiramente apelado Sumé ou Zumé por dificuldade de articulação da pronúncia tupi-guarani.

2 .        Apreciemos, preliminarmente, ainda que a grosso modo, roteiros peabiruanos, para se ter uma idéia da extensão geográfica abrangida. Partindo de Cananéia [SP], aquilo que se julga em geral como sendo um tronco central – e contexto que se deva dizer assim – adentrava para o interior numa direção quase reta a partir de Jurubatuba, cruzando o rio Tibagi perto de suas nascentes, varando as águas do rio Ivaí, prosseguindo até pouco antes do ponto onde o Piquiri tributa o rio Paraná, ali inflectindo para sudoeste, cruzando o Piquiri, a seguir rumbeando para oeste, transpondo o rio Paraná bem abaixo de Guaíra [PR], adentrando pelo Paraguai, prosseguindo até à nascente do rio Jequi em tal país, seguindo a sul deste, sempre na direção oeste e, perto do curso do rio Paraguai, então inflectindo para o sul, acompanhando as águas daquele a boa distância e, então, rumando para Assunção no Paraguai. Daí, ganhando o chão boliviano não longe da região da famosa e outrora riquíssima mina de prata de Potosi, diz-se que dali, fazendo junção com estradas incas, alcançava a capital inca, a cidade de Cuzco e, pelas vias daquele Império, alcançava, então, as águas do Pacífico. Pelo menos em termos de extensão, um caminho admirável. Outro caminho, muito longo, partia de São Vicente [SP], indo por Santo André, Itu e Botucatu, continuando a seguir, mantendo sempre boa distância as águas do rio Tietê, até encontrar o rio Paraná. Dali, hipoteticamente, deveria prosseguir retamente, varando o Mato Grosso do Sul, atravessando o Pantanal, cruzando o rio Miranda e depois fazendo junção com outro imenso ramal que ali chega, em roteiro reto e vindo desde o rio Piquiri, no Estado do Paraná. Aliás, desse caminho que nasce em São Vicente, um ramal que nasce em Itu vai até Jurubatuba; outro que surge em Botucatu, se encontra no Estado do Paraná, após cruzar o Tibagi, com o caminho que começa em Cananéia; e, finalmente, um outro ramal, ainda maior, surge desde perto da confluência do Tietê com o rio Paraná, no Estado de São Paulo, descendo retamente até o Extremo Oeste paranaense, onde, acima do curso do rio Piquiri, tem conexão com o caminho que vem de Cananéia, com o que demanda do Piquiri a Miranda. De observar que o interior paulista e mineiro eram habitados desde muito primitivamente, sendo assinalada, em Minas, a presença humana de um tipo negroide – representado pela mulher que foi apelada Luzia, datando de cerca de 11.000 anos BP, isto é, antes do tempo presente. Nas cabeceiras do rio Verde foram localizados e estudados 39 sítios arqueológicos, das Fases Sapucaí, Jaraguá, Itaci, sendo 35 deles de tradição tupi-guarani. Estudos de José Luiz de Morais e outros indicam, para a região do Paranapanema, uma grande predominância da tradição tupi-guarani, em relação às demais tradições subjacentes. E uma grande antiguidade para a ocupação humana naquela área planaltina, eis que a datação C-14 atingiu a marca de 4.650 BP, o equivalente, portanto, a cerca de 2.650 anos antes da Era Cristã. Em Santa Catarina, outro roteiro é assinalado no Vale do Itapocu, seja por estradas achadas ainda vestigialmente nas matas, seja porque, conforme amplos registros históricos, o próprio curso do Itapocu era usado como caminho. Como o rio é propício apenas para canoas e como o Adelantado espanhol Don Álvar Nunes Cabeza de Vaca trouxe consigo vinte e seis cavalos, é mais provável que estes animais, com boa parte da gente da comitiva, subiu por terra o curso do rio. É bem registrado que a partir de um ponto do rio Itapocu, o comandante castelhano ordenou se ganhasse a serra, pelo caminho antes explorado por Dorantes [Ou Dorandes; ou d`Orantes]; seguiam, assim ficou anotado por testigos, o mesmo roteiro pelo qual os guaranis, aí por 1924, guiaram o seu chefe Aleixo Garcia, que fora a guerrear os incas, numa expedição improvisada e que visava obtenção de ouro, prata, jóias e escravos. Ademais, João Sanches, o piloto de Cabeza de Vaca, enviou uma carta ao rei da Espanha, afirmando que subiram pelo Itapocu nessa expedição de Cabeza de Vaca, porque a região da Baía de São Francisco era desabitada, disse; claro que desabitada de índios que lhes servissem de carregadores. Isso significa, outrossim, que na belíssima foz do rio Itapocu, na região das atuais Lagoa da Cruz e Lagoa da Barra Velha, os hispânicos devem ter achado aldeias capazes de dar-lhes suporte nessa escalada da serra e nessa jornada tão arrojada. Estranho que  arqueologia de fato comprova que a região era bem habitada. Muitas são as notícias, antigas e recentes, sobre o Sistema Peabiru – pois prefiro apelá-lo assim -; e para exemplificar, observo que Pe. Antonio Ruiz de Montoya, no seu antigo livro “A Visão do Paraíso”, descreve o Peabiru como uma estrada de oito palmos, indo desde São Vicente, no litoral paulista, ao Paraná. Na verdade, porém, vai mais além; chega ao Império Inca na Bolívia e no Peru e dali, por caminhos daquele antigo Império, chegava ao Oceano Pacífico. Era, pois, um conjunto de estradas que permitia, já naqueles tempos, a travessia da América do Sul, desde sua costa leste à costa oeste. Colhi no livro de Oriental Luiz Noronha [v. Bibliografia], obra por demais mística, mas que tem também o seu valor, que no Estado da Paraíba, foi descoberta uma estrada de cerca de trinta quilômetros de extensão, possuindo ela um leito de 1,80 de profundidade. Estranho essa medição da profundidade. Não seria de largura? Se fosse de profundidade, equivaleria a uma vala mais funda que a altura de um homem médio. Faria as pessoas presas lá dentro e, ao invés de segurança, traria insegurança. Poderia nesse caso, não ser uma estrada, mas um canal cuja construção foi abandonada. Ou poderia ser o leito seco de um rio. Enfim, não tenho dados fidedignos a respeito da referida descoberta e sobre o que ela julgam os arqueólogos e geólogos, que são os que devem se pronunciar. Também colhi em Oriental Luiz Noronha que há em Minas Gerais os vestígios de uma estrada que, vindo das bandas da Mantiqueira, passa por Itamonte, Caxambu [Portanto, perto de Cambuquira, minha cidade natal], Conceição do Rio Verde, São Tomé das Letras, Carrancas, Luminárias, Itutinga, daí saindo ramais para São João del Rey. Aliás, li artigo arqueológico escrito por Ondemar F. Dias Jr., dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA -, justamente a respeito de estradas pré-colombianas servindo tribos indígenas das cabeceiras do rio Verde, no Sul de Minas, portanto, na região apontada por Noronha. E embora na região tenha havido um convívio intrusivo da gente tupi-guarani com o povo gê, foi não obstante aos tapuias que o referido pesquisador atribuiu tais caminhos. Também registrou Noronha que, quando o bandeirante paulista Lourenço Castanho Taques (São Paulo, 1608- 1671) moveu guerra e derrotou aos cataguases na região de São Tomé das Letras, Minas Gerais, aqueles índios, que se refugiaram nas grutas ali existentes, entregando-se ao vencedor, indagados por ele da autoria das inscrições rupestres – as itacoatiaras, isto é, pedras riscadas; pedras escritas -, responderam que tinham sido feitas por Sumé [Noronha, opus cit., p. 134]. Também disse Noronha que remanescentes dos índios Amoipirá, grupo habitante do sertão da Bahia, lhe disseram que Sumé se recolhera numa caverna, a um mundo onde ninguém morria jamais; e que chegar até ali era a meta do povo tupi. A caverna em questão jamais foi encontrada, porém, desses fatos, diz, também os aimorés e botocudos deram testemunho [Opus cit., p. 135].

3 .        André Prous, na sua ótima “Arqueologia Brasileira”, opina que as estradas utilizadas pelos tupis e guaranis, visavam, talvez, fins militares, permitindo o deslocamento estratégico, com a comunicação dentre suas comunidades esparramadas, unindo, por exemplo, mesmo as muito distanciadas, como as do litoral com as do Chaco. E estranha que elas cortem mesmo terras de povos hostis aos tupi-guarani. Ora, justamente eu tenho o pensamento oposto, de que eles, tupis e guaranis, caminhavam beirando os rios e dominando a estes, até porque eram um povo de canoeiros excelentes. Outros povos, para evitar conflitos com tais e belicosos vizinhos, tendo ou não construído tais esquisitos caminhos, os peabirus, os usavam para evitar contatos perigosos. De fato, observo que os peabirus foram construídos para deliberadamente evitarem o contato com os grandes rios e os afluentes maiores; isso pode permitir a indução de que a construção de tais caminhos veio a ocorrer, ainda que progressivamente, mas sempre depois de quando os tupis e guaranis – e eventualmente, outras nações poderosas – já tinham se assenhoreado dos rios; a contrario sensu, era esperável que os edificadores de tais caminhos buscassem, contrariamente, construir a curta distância dos leitos fluviais. Verdade que uma curta distância deles é necessária, em razão das cheias e exames arqueológicos de sítios marginais o demonstram. Isso era observado generalizadamente por gentes de todas as tradições culturais. Todavia, já um afastamento tão grande de suas águas, mesmo de dezenas de quilômetros, ainda mais que sendo coisa tomada como regra e na intenção clara e objetiva de manter-se equidistantemente longe dos rios, isso induz a que se quis, é evidente, evitar os habitantes dos rios. Outrossim, tal uniformidade de evitação, do mesmo modo que uma certa uniformidade de técnicas segundo as circunstâncias, reforça minha idéia da unidade de engenharia, ou seja, os peabirus foram abertos, na sua maior parte, por um único e mesmo povo; no mínimo, se foram vários, as circunstâncias de risco na proximidade das águas parece ter sido similar para todos: presença de ribeirinhos agressivos, belicosos. Relembro aqui a observação de André Prous, no sentido em que os tupis e guaranis foram no passado um povo tipicamente de navegadores fluviais, indo em migrações massivas pelos rios. Não afirmo a unidade do construtor, porque não sei se esses vários ramais do Peabiru têm datações diferentes. Seria necessário, antes, fazer exames arqueológicos neles, colher datações, mais claro levantamento dos recursos materiais e das técnicas empregadas. Também seria possível que os guaranis, assegurando para si o domínio fluvial nos rios e afluentes mais importantes e mesmo mais estratégicos, se pusessem a, em seguida, procederem a caminhos interioranos, interligando também por terra as suas distintas comunidades, assegurando também por terra mais rápido contato dentre as mesmas. Isso poderia conduzir à compreensão de um plano estratégico amplo e continental da parte dos referidos índios. No fim das contas é preciso considerar que os tupis e guaranis, mesmo afirmando que não foram eles os edificadores e sim Tomé/Sumé, estariam de todo modo afirmando, implicitamente, que tais caminhos eram uma dádiva deles, uma herança a eles deixada por Tomé a eles, tupis e guaranis; que por isso usavam tais caminhos, deixados a eles por Pay Tomé; não negavam fossem os possuidores; ademais, é possível que os tupis e guaranis, respondendo às velhas indagações sobre quem os autores do caminho, apenas negaram que fossem eles, índios contemporâneos da chegada dos europeus, porém, poderiam atribuir a obra a seus ancestrais, pois, quando apontaram o construtor como Pay Tomé, Pay Some, estavam desse modo atribuindo tal obra de engenharia a um dos seus heróis do passado, a um dos seus mitos das origens, denominado Sumé e que há muito é objeto de estudos pelos tupinólogos.

Esses peabirus existem por toda parte. Na Bahia são apelados mairapés, isto é, os caminho de Maíra e, significativamente, este é um herói mítico dos tupi-guarani, sendo que ao tempo da conquista européia, esses índios passaram a apelar maíras aos homens brancos, aos estrangeiros, particularmente aos franceses e mesmo preferentemente a qualquer estrangeiro que fosse loiro. Em 1970 os arqueólogos Igor Chmyz e Z. Sauner, visitando um ramal secundário de um desses caminhos, sito dentre Erveiras e o curso do rio Piquiri, toparam ali com ele e seguiram-nos por cerca de trinta quilômetros. Nos trechos ainda cobertos de mata, os vestígios eram perfeitamente visíveis. A trilha, registrou Igor, possuía 1,40 m de largura, por 0,40 de profundidade; e disse que, devido ao pisoteamento do terreno, não foi possível constatar qualquer revestimento do leito primitivo de tal caminho, no qual a terra se encontrava compactada. Também no município de Itapiranga o arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, S.J. topou com um trecho de estrada, talvez peabiruano, com cerca de um quilômetro. Ali, porém, era obra mais larga, pois tinha quatro metros de margem a margem, disse Rohr. Dirigia-se para a fronteira da Argentina e da qual, para o caso, dista cerca de doze quilômetros. O arqueólogo referido não descarta a hipótese de que, pelo Peabiru, se pudesse comunicar com os Andes. Disse Rohr que indícios arqueológicos foram notificados por Bischoff, indicando um relacionamento cultural dentre Paraguai e Bolívia; inclusive narra Rohr a descoberta, no Rio Grande do Sul, de objetos de bronze, o que convida a uma origem andina de tais peças; e que Krone encontrou, em Cananéia, um machado de cobre, cuja análise laboratorial feita na Áustria trouxe a afirmação de que a origem de sua matéria prima é andina. Isso, é claro, não significa que os incas estiveram no Brasil, embora pudesse ter ocorrido; porque pode ser, isto sim, tupis os trouxeram dos Andes para sua região paulista. Além disso, algumas peças que se encontre aqui e ali poderão até mesmo ser provenientes do tesouro de Aleixo Garcia, desaparecido desde quando este foi morto no Paraguai. Luiz Galdino e Hernani Donato, em seus respectivos estudos, concluem que os peabirus foram construídos pelos incas. Contexto. Mas ambos recordam que o tupinólogo Luiz Caldas Tibiriçá encontrou no Mato Grosso do Sul – isso, perto da fronteira com a Bolívia – mais de um quilômetro de um caminho pavimentado, com quarenta centímetros abaixo do solo, com 1,80 m de largo.

4 .        Diz-se que um português, admirado de tais caminhos, indagou de um tupinambá, na região de Cananéia, ante o caminho que, do litoral, ganhava planalto acima: - O que é isto? E que, por resposta, o índio lhe disse: - Peabiru. E, indagado sobre quem o fizera, afirmou simplesmente: - Pay Sumé. E que o luso, então, fiel católico, julgou que o índio falava de São Tomé, o apóstolo cristão, que sabidamente fora pregar o Evangelho em terras distantes. Conta Hernâni Donato tal versão. Na verdade a pronúncia Sumé é errônea. Lusos e castelhanos foram incapazes de pronunciar o nome dado pelos tupis e guaranis ao dito herói mítico. A pronúncia indígena, nasalada, é para eles difícil. Ela deveria ser mesmo algo como Tzomé ou Tzumé. De todo modo, quase ao término do presente livro exponho, por razões que entendo absolutas, porque não poderia se tratar do santo cristão.

Das notícias velhas, Eurico Ribeiro, no seu belo livro “História de Guarapuava”, registra relato do Dr. Gentil de Assis Moura, no sentido em que um tal Diogo Nunes, indo de Piratininga até ao Paraguai e Peru, escreveu em 1539 a D. João III uma carta, falando dos sertões a que se podia chegar “por um caminho que ligava os portos do Atlântico (Cananéa e São Vicente) aos portos do Pacífico, no governo do Peru” [Opus cit., p. 21]. E narra Eurico Ribeiro que, indo a comitiva de Cabeza de Vaca pelos sertões rumo a Assunção, topou no caminho do Peabiru, no centro do atual Estado do Paraná, o indio cristão de nome Miguel, que se achava a caminho de São Vicente, regressando de uma viagem ao Paraguai [Opus cit., p. 21]. E embora nos pareça, agora distanciados no tempo, que fosse tal caminhada do índio rematada loucura, ainda mais se a sós, como parece ter acontecido, temos a lembrar que ele, pelo caminho, podia ter abrigo, pousada e refeição numa multiplicidade de tribos, máxime se sendo da gente tupi-guarani; mas mesmo se fosse de outras etnias, as encontraria. Também João Salazar – registra Eurico – veio do Paraguai, pelo Caminho do Peabiru; assim como o cruzou Braz Cubas e Luis Martins em 1562; e o soldado alemão Ulrich Schmidl; e João Sanches – que fora piloto de Cabeza de Vaca - e um grupo do qual participou. Aliás, Schmidl teve que abandonar o Peabiru para apenas retomá-lo muito mais além, para evitar índios belicosos no Paraná; e narrou que, certa feita, ele e seus poucos companheiros, com arcabuzes, travaram renhida luta com cerca de 6.000 índios, que tinham aprisionado dois espanhóis. O combate prosseguiu por quatro dias, diz Schmdl [Cf. Eurico Ribeiro, opus cit., p. 23/24].

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