quarta-feira, 15 de junho de 2011

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Recebemos e estamos postando um breve trabalho didático da índia Guarani Jaxy (Nilsa de Oliveira), especialista em Arte e Educação do Núcleo Estadual de Educação Indígena – Coordenação de Londrina – Pr.
De agora em diante estaremos postando regularmente matérias e informações que tratem de assuntos indígenas, em especial da comunidade Guarani, cujas aldeias se interligavam ao longo do Caminho do Peabiru.
A apresentação desse trabalho veio por intermédio da nossa amiga e colaboradora Sinclair P. Casemiro (Campo Mourão – Pr), pioneira nas atividades de resgate e preservação do Caminho do Peabiru, que além do seu extenso cabedal pedagógico e intelectual, dedica boa parte do seu tempo aos estudos da civilização indígena no Brasil e países vizinhos, em particular da etnia Guarani. 



EDUCAÇÃO E CULTURA INDIGENA GUARANI

EDUCAÇÃO INDÍGENA: Vem de dentro da aldeia, ou seja: é a educação recebida através dos familiares, da comunidade , do Xamã, dos ensinamentos sagrados recebidos e praticados na Oy Guatsu (Casa Grande, Casa Sagrada).

EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: Vem de fora para dentro da aldeia, são os conhecimentos científicos, aliados aos saberes tradicionais indígenas de cada povo.
Mas é ESPECIFICA: tem uma pedagogia diferenciada, calendário diferenciado e modos de ser, viver e ensinar diferente.

É INTERCULTURAL: ou seja trabalha com conteúdos e disciplinas como matemática, história,artes, português, ciências, etc , mas sem deixar de trabalhar os saberes de seu povo.

É BILÍNGUE: a criança aprende através de duas linguas, a lingua materna e o português, ou multilíngue onde aprende a língua materna, português e outras línguas (inglês, espanhol, línguas indígenas de outras etnias).

QUAL A DIFERENÇA ENTRE A ESCOLA INDÍGENA E A ESCOLA NÃO INDÍGENA?
A Escola Indígena é Especifica, Intercultural e Bilingue, com modos de ver o mundo diferente, temporalidade no ensinar, importância da escola na vida da criança indígena. Quem ensina?(professor espelho do aluno) O que ensina? e para que ensina? As lideranças e os pais acompanham o movimento escolar e o cacique é chamado somente em ocasiões especificas que interferem na escola.
A criança é como um pé de milho crescendo, onde deve ser cuidado e regado com carinho , assim como o vento quando beija as plantas e as enche de energia boa, Assim deve ser os ensinamentos e os cuidados dos professores e da comunidade com a criança. Não obrigamos e nem forçamos nossas crianças a ficarem sentadas longas horas na sala aula.
Respeitar a criança e ouvir os mais velhos, Sem a sabedoria dos mais velhos não há sustentação da cultura e o saber de um povo.
E a comunidade não indígena... o que ensina suas crianças a fazer com seus órfãos e os mais velhos? 

COSMOLOGIA GUARANI: Contam os mais velhos uma antiga história sobre a diferença entre o Guarani e o Juruá (não índio). Dizem os mais velhos que todas as almas Guarani vivem juntas em uma grande Oy Gwatsu, que fica no paraíso celestial. E fora da grande Oy Gwatsu existe uma enorme árvore de copa frondosa e verde, onde vivem todos os outros seres vivos. Quando Nhanderu-Ete decidiu povoar a terra, estabeleceu a seguinte ordem: sempre que nasce um Guarani na terra, a alma dele vem da grande Oy Gwatsu. Já os animais e os juruá descem da grande árvore. Mas, para os Guaranis, os seres viventes, mesmo não tendo saído da Oy Gwatsu celestial, merecem nosso respeito. Por isso nós,Guaranis, temos como tradição o não- conflito. Porque consideramos a vida sagrada. Temos tentado mostrar e sensibilizar os juruá (não índios)que somos unos a natureza e que ao destruí-la, destruímos a nós mesmos. Que a terra é nossa mãe e que em seus seios ela guarda a abençoada água para saciar nossa sede e nos dá o alimento. Também desde muito tempo nossos antepassados falam que o nosso espaço terreno deixado por Nhanderu-Ete para vivermos, são o Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e a Bolívia, sendo que o maior apyka ( portal celestial) está no Paraguai, considerado o centro mais sagrado do território Guarani. Assim como Jerusalém é o centro religioso para os juruá cristãos, o Paraguai é o centro sagrado para os Guarani. Por isso que cada Guarani, se sente filho do Paraguai, porque ali é o centro do nosso mundo sagrado. Mesmo vivendo em qualquer outro lugar, nós Guaranis sempre seremos filho/a do Paraguai em busca do Ywy Maraé'y .

TERRITORIALIDADE INDÍGENA: A partir da nossa cosmovisão, nós, povo Guarani, sempre buscamos evitar confrontos com os que se apropriaram de nossos territórios, sendo essas invasões na maioria das vezes violentas e barbaras. Desde a demarcação das fronteiras nacionais a Nação Guarani ficou fragmentada e dividida geopoliticamente em etnias, comunidades, aldeias, famílias, condição esta que enfraqueceu significativamente nosso projeto espiritual, cultural e linguístico como Nação. Apesar das invasões sofridas, nós Guaranis persistimos e resistimos na luta pelos nossos territórios tradicionais, inclusive nas periferias das grandes metrópoles do Mercosul, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, onde nossa economia de reciprocidade se contrapõe com o modo de vida individualista das capitais. A territorialidade indígena do povo Guarani sempre teve um espaço terreno próprio de ser para a busca da Yvy maraé’y (Terra Sem Mal) que extrapola fronteiras municipais, estaduais e internacionais.



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